Tendo já participado ativamente da loucura e do exagero visual que é o Salone del Mobile, a também chamada designweek pela dimensão que atingiu nos últimos tempos, é quase imparcial analisar os frutos da edição deste ano somente pela internet. Porém, me arrisco a destacar alguns eventos/produtos que me pareceram mais significantes, por motivos diversos e até bem pessoais (coisa que não deixa de acontecer com aqueles que passaram a semana a perambular entre showrooms e coquetéis de puro marketing).
Com base na edição do ano passado, nas tendências mundias e nos rumos da indústria moveleira, eu já tinha arriscado dar alguns palpites por aqui. Os resquícios de três anos marcados pela recessão econômica, segundo a Alice Rawsthorn, continuavam presentes neste ano. Aliás, os cartazes sobre as eleições municipais do próximo mês espalhados pelas ruas de Milão, não deixaram que os escândalos políticos e a crise financeira do país fossem esquecidos. A jornalista autora das melhores críticas de sempre sobre o design ressaltou também que os fabricantes de mobiliário encontram-se ainda em situação frágil, o que poderia justificar a manutenção de linhas de produtos já existentes ao invés da criação de novas e o renascimento de algumas pequenas empresas familiares, que parece ser uma tendência forte apresentada na feira deste ano.
A opinião do designer Yves Béhar (cujo projeto é destaque a seguir), através do site da LS:N Global, a busca atual é por uma “poesia da simplicidade, que vem em contraste com aos anos recentes de ostentação e consumismo”. As pessoas estão dispostas a pagar somente por produtos e experiências que consigam entregar soluções mais simples, sem elementos sobressalentes ou que considerem desnecessários.
Algumas palavras-chave poderiam também remeter ao conforto, à retomada de raízes e tradições antigas, à parceria entre tecnologia e materiais em busca de simplicidade e diminuição de custos.
Vamos aos meus elegidos? (em ordem aleatória)
Design for Download por Droog Design
O grupo holandês mais visionário e querido (por mim) lançou esta ferramenta virtual que promete ser a primeira plataforma para “downloadable design”, através da qual produtos podem ser criados, copiados, divididos e avaliados por usuários comuns de computador. Além de baixar os custos de etapas como produção, projeto, transporte e armazenagem, e facilitar a comunicação entre designers e consumidores, a Droog pretende fazer do design mais acessível a todos, pois acredita que “everything is makeable, anytime, anywhere, by anyone”.
Design Academy Eindhoven
Depois do grupo de design mais querido, esta é a escola de design (e de ideologia) que eu mais admiro. O blog italiano Designerblog contou que esta instalação, localizada em uma das zonas menos valorizadas na designweek (Porta Romana), proporcionou uma experiência mais intensa do que o resto do evento todo. A filosofia de base é aquela de uma atividade de problem solving, que se inicia por uma pesquisa para chegar em uma pergunta (lembram da instalação da escola no ano passado ?) e fazer do projeto uma resposta lógica e concreta, mas ao mesmo tempo humana e inimaginável. Tratava-se de mais do que instalações: a Design Academy convidou os visitantes para palestras, conversas e debates durante o café da manha, apresentando projetos de alunos e graduados, parcerias, com base nas diferentes visões sobre o mundo.
Exemplos dos mais incríveis são: o projeto de Yves Behar, um dispositivo para livrar de minas os territórios do Afeganistão que precisa apenas da força do vento e dispensa o perigoso intervento humano; e os estudos de padrões têxteis criados não pensando no consumidor final mas sim nos artesões fabricantes: pessoas com doenças mentais que tem facilidade de tecer uma determinada trama. (Tour no site http://www.designacademy.nl/SaloneMilan2011.aspx)
“Stadsmuziek” de Akko Golembeld, também no interno da instalação da Design Academy Eindhoven:
“Qual o som de uma cidade? Quais os tons produzidos pela sua arquitetura e urbanística?” As respostas são apresentadas através de um cilindro gigante de madeira, com o modelo em escala da cidade de Eindhoven, que transforma as dimensões e distâncias dos seus edifícios e construções em uma experiência auditiva.