Estantes e design emocional em Londres

por thaís serafini

Design conceitual e emoção x design racional e função. Esse paralelo de ideias dita o tom do texto mais recente da crítica de design mais-mais Alice Rawsthorn no New York Times (confira na íntegra aqui).

A “Design is a state of mind“, exposição recém inaugurada sob a curadoria do designer italiano Martino Gamper na Serpentine Sackler Gallery (Londres), tem como foco os poderosos laços entre as pessoas e seus objetos. Nas palavras da autora “Gamper espera que os visitantes, ao ver os objetos da mostra, se sintam encorajados a reavaliar os produtos das suas próprias vidas e a cultura de design que os produziu”.

Cinco anos antes, a galeria sediava sua primeira mostra dedicada ao design, que teve o designer alemão Konstantin Grcic como curador. Segundo Rawsthorn, são praticamente inexistentes as similaridades entre os designers e suas mostras.

A “Design Real” explorava a influência do design industrial na cultura contemporânea, o que reflete o próprio perfil do designer alemão, “que usa a experimentação com tecnologias avançadas para produzir produtos inovadores e funcionais em escala industrial“. Já Gamper, favorece uma abordagem mais intuitiva ao design, abusando de características artesanais e cheias de improviso. (Fica a dica: a trajetória do designer italiano mistura arte, design e artesanato com objetos encontrados na rua e parcerias com indústrias moveleiras, vale ir pesquisar mais sobre o moço!).

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A “Design is a State of Mind” traz coleções selecionadas por amigos e colaboradores do curador, com a condição de que tenham profunda importância sentimental para seus donos. Entre os participantes, livros do publisher Simon Prosser, itens IKEA e Gaetano Pesce e objetos usados pelo mestre Enzo Mari como pesos de papel. Mais um fator inusitado nesta mostra de design é ver o destaque ser transferido das sempre famosas cadeiras para as “alternativas” estantes. As escolhidas pelo curador da mostra são variadas, partindo de um móvel inglês de 1934 até itens mais recentes produzidos por ele mesmo. O mobiliário acabou ganhando posição de protagonistas, indo além da sua função como expositores de objetos.

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Para mim, as abordagens e os trabalhos de Grcic e de Gamper se complementam. Juntos, seus perfis formariam um conceito completo de design por levar em conta tanto os fatores emocionais quanto os racionais. Além disso, me fazem pensar em uma outra incrível exposição de design (“Quali cose siamo”, de 2010 em Milão, e que já foi assunto aqui) e que destaca ainda mais a importância dos objetos das nossas vidas, afirmando que eles fazem parte daquilo que somos.

Se você estiver por Londes e conseguir visitar a mostra, vem me contar o que achou!

*A primeira imagem é a “Robot Chair”, do próprio Martino Gamper (2008). Já a segunda traz a “Nuvola Rossa”, de Vico Magistretti, 1977, fabricada pela Cassina (via L’Arco Baleno).

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